quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Sem definições!

'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se
isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss
Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa
fazer, como boa profissional, filha e mulher que também sou:
trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado,
decido o cardápio das refeições, ainda cuidarei dos filhos, marido (se um dia tiver),
telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo,
vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e mails,
faço revisões no dentista, mamografia, as vezes faço exercícios,
compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda
faço as unhas e depilação!

E, entre uma coisa e outra, leio livros muitos.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic.

Por mais responsável que eu seja, aprendi duas
coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por
nada, aliás.

Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na
sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da
maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento
você seria modelo para os outros.

Meu pai e minha mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo
o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e
mamasse direitinho.

Não sou Nossa Senhora.

Sou é, humildemente, uma mulher.

E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir,
bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda
lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer
projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa
impressão de ser indispensável. É ter tempo.

Tempo para fazer nada.

Tempo para fazer tudo.

Tempo para dançar sozinha na sala.

Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.

Tempo para sumir dois dias com seu amor.

Três dias.

Cinco dias!

Tempo para uma massagem.

Tempo para ver a novela.

Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos
de beleza.

Tempo para fazer um trabalho voluntário.

Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.

Tempo para conhecer outras pessoas.

Voltar a estudar.

Para engravidar.

Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.

Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser
perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de
ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa
postal.

Existir, a que será que se destina?

Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for
super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será
bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.

Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.

Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!

Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre
para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da
semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma
que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa
Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso,
francamente, está precisando rever seus valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à
beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser
prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é,
afinal, uma vida interessante.

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